Friday, December 09, 2005

Os afogados

Os afogados

À distância, podia parecer que ela estava se divertindo, nadando, aproveitando a tarde de sol naquele marzão azul, um mar tão aparentemente calmo, uma beleza de mar, tudo naquelas águas era paz, tranqüilidade, mas se bem que, se bem que, aquela mulher, ou seria uma garota? Aquela pessoa ali parecia meio agitada.

Acenou para ela, tinha certeza que não estava acontecendo nada, foi só um aceno para dizer olá naquela tarde tão linda onde ela, com certeza, estava se divertindo tanto. Mas ela não acenou de volta, a cabeça dela afundou e saiu da água repetidas vezes e ela não acenou. Será que estava acontecendo alguma coisa?

Com certeza não, mas, você sabe, só para ter certeza absoluta, ele, um banhista comum, entrou naquele mar tão manso para chegar mais perto dela. Era só esticar o braço um pouco, bom, talvez, um muito, e ele estaria perto dela, e o mar estava tão manso, ele não corria risco algum.
Ela continuava afundando e voltando, estava brincando, claro, riu um riso nervoso e começou a nadar mais forte em direção ao fundo, não tinha nada de mais.

Finalmente chegou perto da moça, se sentia cansado, mas a sensação devia ser falsa, pois num dia tão lindo, com um mar tão calmo, todo mundo se sentia bem. Pegou mais ar, falou com a moça, brincalhona com certeza.

- Tudo bem?
- Me ajuda, estou morrendo...
- Quê?
- Me ajuda...
- Você está se afogando?
- Claro, não ta vendo?
- Nesse mar tão lindo e calmo?
- Lindo? Você acha lindo morrer no mar como aquela música?
- Mas é impossível se afogar nesse mar – ele tinha certeza, ou quase, disso.

Ela afundou novamente, não respondeu com palavras, só com borbulhas, estava perdendo as forças.

- Moça
- ...

De repente, percebeu uma coisa, onde ele estava não dava pé. Estava fundo mesmo. E a praia estava tão distante, não estava mais um dia bonito como parecia, tinha umas nuvens pretas, ia chover logo, o tempo ia mudar.

- Moça

Ela não respondeu novamente e ele tentou nadar em direção a ela, sentiu uma coisa estranha, a correnteza...ele não tinha percebido que havia correnteza, pensou que tinha chegado ali sozinho, mas não, a correnteza o levara e parecia que continuava levando, em direção à moça e para longe da praia. Ele nunca acreditou em correnteza, ele nunca acreditou em destino, ninguém podia leva-lo para onde ele não estava querendo ir.

- Moça!!!
- Me ajude..- ela conseguiu dizer entre uma afundada e outra.
- Estou indo.

Foi até ela sem querer novamente, agarrou sua cintura sem querer, começou, sem querer, a sentir o mesmo desespero que ela.

- Pronto, estou aqui.
- Me ajude...
- Estou tentando, mas estamos indo cada vez mais pro fundo...
- Eu sei, a gente vai morrer
- O quê?
- Vamos morrer, se ninguém ajudar, estamos morrendo...
- Mas está um dia tão lindo, ninguém imagina que estamos morrendo afogados,

Ela deu um suspiro e afundou, há horas estava lutando contra a maré. A maré era mais forte. Como sempre, o mais forte vence.

- Moça, você está bem?
- ....
- Moça?
- ...
- Por favor, não vá agora, não estou me sentindo bem, parece que esse mar tão manso está me levando, ninguém lá na praia vai imaginar que...Moça!

Ela estava totalmente inerte, ele a segurou e sentiu que não pesava nada. De repente, seu próprio corpo também estava mais leve. Dessa vez, não gritou, apenas sussurrou...

- Moça...não conte pra ninguém, mas eu acho, eu tenho quase certeza, que estou me afogando também, estou morrendo, nesse dia tão lindo...

Gisela Cesario

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