Respostas
Domingo em São Paulo. Poucas opções além da mega livraria. Entram sem pensar se realmente estão a fim de ler alguma coisa. Não tem mais o que falar. Já almoçaram juntas, já contaram casos dos casos, já estão até com vontade de ir pra casa, talvez ver Silvio santos, rolentrando....mas o programa não pode acabar tão cedo, fica chato, na rua faz um calor insano. Entrar na livraria é uma questão de sobrevivência, o ar condicionado se torna uma necessidade, quem disse o Brasil não tem leitores?
- Você acha que ele me acha velha pra ele? – pergunta Daniela, pouco se importando com a resposta.
- Cara, muito velha – diz o homem olhando a cara de uma autora na capa de um livro famoso.
Daniela se vira. O homem continua, o papo é com o amigo ao lado.
- Porra, será que a gente tá velho assim?
- Mas é óbvio, isso é tão obvio – quem responde são dois gordos um pouco mais ao longe, ou melhor, ao perto, examinado um livro de culinária.
- Imagine, ensinar um refogado, esse livro é ridículo ou ridículo sou eu?
- Você, sempre você – se volta a menina pro namorado – será que é só em você que você consegue pensar? Eu não existo. Eu não sou porra nenhuma, alguma outra coisa além de você é importante?
- Por favor, é muito importante pra mim, mãe, compra – pedia uma adolescente.
- Por quê, é sobre o quê ?– responde a mãe.
- Putaria, né? - Diz uma branquela com cara de que não dormiu bem ou não dormiu mesmo ontem. - Tem outro assunto sobre que esse cara fale?
- Mas putaria em que sentido? – pergunta a companheira meio alienada.
- Não faz sentido, entende – explica o vendedor a um vestibulando- o melhor é isso, num livro de poesias o sentido não importa. Você não tem de sentir, entender é parede, você tem de ser uma árvore
- Ah – diz o jovem que vai fazer vestibular- ele não fala, mas pensa – viado, com certeza, pra que fui perguntar isso prum viado?
- Olha, todos os homens são viados, - comentam as duas amigas do início- só que uns mais e outros menos.
O moleque se vira, mas pensa que elas são velhas demais pra ele. Elas continuam.
- Ele deve ser homofóbico.
- Que signfica homofóbico? – pergunta o adolescente ao vendedor que revira os olhos
- Sabe quando o cara é um babaca? - Um casal ao lado comenta. - Mas um babaca mesmo, do tipo que tem cara de babaca, jeito de babaca, o cara é um otário.
- Calma, responde a mulher, ter raiva do seu chefe não adianta nada, a raiva faz mal pra quem tem, eu, por exemplo, tenho raiva de que?
- De cabelo liso - fala uma menina olhando as revistas. - Como eu odeio quem tem cabelo liso assim, com essa cara de japonesa.
- Puta, nem fala, e essas magrelas então, nem fala, será que elas não comem, não têm fome?
- Só sinto vontade de beber - diz um cara magrelo no canto dos cds pra uma amiga magrela também.
- Eu queria era fumar um cigarro, responde ela.
- Vamos sair daqui.
- Você não vê que não tem saída – fala um coroa pro outro – Tenho que terminar esse casamento.
- Isso não tem fim – fala a mãe – Esse harry potter lança um livro atrás do outro, eu não vou parar de gastar dinheiro nunca.
Do lado de fora, um camelô comenta com o outro.
- O que tanta gente faz aí dentro? Só pode ser o calor.
- Você é um cara burro, né, sabe ler? Eles entram aí pra comprá livro.
-Pois pra mim, eles não querem nada com nada – Mas quem disse isso não foi o camelô, foi a mulher do início, já indo embora. - Os homens não querem nada com nada, melhor sair dessa livraria e ir pra casa.
Ao entrarem no táxi, ainda viram a propaganda de uma revista de decoração. “Quem casa quer casa?”
Gisela Cesario